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Planeta Resenha Marvel: X-Men: Massacre de Mutantes (parte 01)

Definitivamente, os anos 1980 mostraram como um roteiro de quadrinhos poderia ser elaborado e bem construído se colocado nas mãos de roteiristas que se empenhavam em produzir boas histórias. Conhecedora de tal fato, talvez, a Panini trouxe de volta algumas edições que nos mostram personagens um pouco diferentes daqueles que conhecemos hoje, mas, mesmo assim, reconhecíveis ao jovem acostumado à verborragia sem sentido de Deadpool e Arlequina.



Massacre dos Mutantes foi um dos primeiros crossovers “contidos” do universo Marvel. Chamo contido porque ele tenta, com muita eficácia aliás, se manter em torno de personagens que são, ou já conviveram com, mutantes. Chris Claremont, em sua melhor forma, é claramente o roteirista principal da história, desenvolvendo toda a trama. Louise Simonson (com X-Factor e Quarteto Futuro) e Walter Simonson (com O Poderoso Thor) conseguem manter o excelente nível de roteiros, criando uma história consistente sobre o genocídio perpetrado aos Morlocks, mutantes que viviam nos esgotos de Nova Iorque.

A trama segue a premissa básica criada por Stan Lee desde a década 1960 – há uma discriminação generalizada aos mutantes porque seus poderes são alvo de inveja e medo pela sociedade comum. Em Stan Lee era uma simples metáfora ao que acontecia com todo tipo de gente que não se enquadrava num determinado padrão de normalidade confuso e contraditório existente em qualquer sociedade através dos tempos. Claremont tece algo diferente – a discriminação fomenta ódio que, por sua vez, alimenta narrativas em paralelo para justificar esse mesmo ódio. A combustão está realizada. Poucos anos antes, o autor já estabelecera que os mutantes seriam as principais vítimas do ódio da nação. Todos os humanos, basta reparar, contam histórias sobre mutantes ou mandam algumas frases feitas sobre aquilo que os mutantes fazem –para eles, matar, matar, matar.

O leitor dessa época, adolescente ou não, sabia muito bem que os mutantes eram um reflexo das minorias, perseguidas e vítimas de todos os problemas sociais existentes. Desemprego? Culpa dos gays! Inflação? Negros! Etc. O roteirista sabia que, nos anos 1980 dos EUA, a campanha contra todo o tipo de discriminação estava a pleno vapor, o que abria a margem para o autor mostrar que, quando há luta contra o preconceito, ele não ataca mais um determinado lado, mudando a outro – como se fosse uma das características distintivas da humanidade possuir, enquanto espécie, atitudes de discriminação para com seus semelhantes.

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A maior sacada de Claremont é perceber que a discriminação é um fenômeno típico da classe média que se alastra para as outras classes. Na cena acima, vê-se claramente que as pessoas de classes sociais mais humildes não possuem tempo ou disposição para efetivamente declararem-se preconceituosas, preferindo julgar as pessoas (sejam mutantes ou não) por suas ações. A história ainda possui um aperitivo a mais: estávamos na época da primeira formação do grupo X-Factor. Esse grupo de heróis agia sob duas premissas: X-Factor era um grupo que perseguia mutantes para o bem comum, ou seja, capturava os mutantes para que o homem comum continuasse em segurança. Sua outra faceta era o grupo Exterminadores, os mesmos mutantes (a formação original dos X-Men – Ciclope, Anjo, Fera, Homem de Gelo e a ressuscitada Jean Grey) travestiam-se de heróis para “combater” o X-Factor. Uma fachada em cima de outra fachada, revelando mais uma fachada – as constantes brigas internas e a premissa fundamental de Chris Claremont ao estabelecer relações entre indivíduos sob o código de três (mais a frente, retomarei o tópico).

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O roteirista insiste no ponto – a discriminação é o tema da revista. Talvez a história seja uma grande alegoria ao que acontecia em outras épocas em que a discriminação era algo mais evidente. Vejamos outro exemplo:

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A cena mostra um combalido Noturno sendo perseguido por uma turba que deseja sua morte. O motivo não poderia ser outro – ele é mutante e tem uma aparência desagradável aos olhos da média da população. Piotr, Illyana e Kitty vão ao resgate do amigo e a cena mostra um importante mecanismo para o funcionamento do preconceito. Todo o discurso dos preconceituosos é carregado por uma boa dose de analogias (se um fez, outro fará) e imaginação, mas a última é levada para o lado negativo, com o objetivo de despertar terror. Lendo a história cerca de 30 anos depois, fica claro que nós, as pessoas da moda, os comandantes do universo, as pessoas que são as detentoras da opinião sobre tudo e todos, não somos tão diferentes dos “humanos” naquela cena. Somos tão somente mais um bando que usa as ferramentas virtuais para perpetrar os mesmos sentimentos de discriminação e ódio, não é mesmo? Tudo isso com altas doses de imaginação para justificar nossos medos que são idênticos àqueles que já existiram e serão idênticos aos que existirão. 


Fonte: Iluminerds

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