Pelo amor dos meus filhinhos! O que
fizeram com Tony Stark dessa vez? Bom, se vocĂȘ vem acompanhando a fase atual
publicada no Brasil escrita por Kieron Gillen jĂĄ sabe mais o menos o que estĂĄ
se passando com o personagem em termos de retcon e
origens. Tony e toda a sua famĂlia sofreram nas mĂŁos de Gillen um duro golpe em
seu passado recentemente, entĂŁo nĂŁo preciso falar mais nada sobre este assunto.
O roteirista Tom Taylor em sua
estreia nos leva para SĂŁo Francisco pouco tempo apĂłs o final do confronto com o
Caveira Vermelha em Eixo e
vemos Tony usando uma nova versĂŁo do vĂrus Extremis chamada Extremis
3.0 para
manipular toda a população da cidade em seu benefĂcio. O personagem Ă© retratado
muito mais como um egomanĂaco obcecado com seus prĂłprios interesses do que um
vilĂŁo nefasto e cruel. Tony aqui Ă© um babaca, um aproveitador e um oportunista,
mas o autor consegue definir um tom bem claro para esta nova personalidade
nesta edição, e o novo Homem de Ferro nĂŁo Ă© vilanesco e sim a sĂntese de um
egocentrismo exacerbado e um retrato de uma pessoa que estĂĄ pouco se fudendo
para o mundo a sua volta, contanto que tudo saia do jeito que ela quer (Fala
sério, todo mundo conhece alguém assim, né?). Segue então um festival de
chacotas, sarcasmo, esbĂłrnia e toda a sorte de piranhagem possĂvel em um tĂtulo mainstream da Marvel. Ă claro que vocĂȘ nĂŁo
vai ver o Homem de Ferro em uma orgia “caligulana” aqui (mesmo porque a
classificação da revista é para 12 anos de idade em diante), mas då pra
imaginar nas entrelinhas que ele provavelmente participou de algumas
recentemente. Nesta primeira edição nĂŁo temos aquele formato clĂĄssico de “herĂłi
contra vilĂŁo” que geralmente infecta quase que todas as primeiras ediçÔes de
HQs de “supers”. A histĂłria Ă© muito focada nos planos de seu protagonista e nas
consequĂȘncias de suas açÔes para a população. Os diĂĄlogos sĂŁo muito divertidos.
Toda e qualquer fala proferida por Tony Stark transborda sarcasmo, desdém e
sebo. E isso vale jå a primeira edição inteira.
A arte e o design da nova armadura
do Homem de Ferro ficam por conta de Yildiray Cinar (quero
ver pronunciar isso). O artista Turco faz um trabalho muito consistente
demonstrando a interface homem-mĂĄquina e apresentando o funcionamento da nova
armadura prateada do cabeça de lata. As caracterizaçÔes são bem interessantes e
temos um visual levemente cartunizado para esta edição de estreia, o que é
extremamente benéfico e evita que a HQ fique com um tom sombrio por conta das
açÔes do personagem central. A colorização da equipe de Guru-eFX é clara,
limpa, brilhante e vĂvida e temos uma aparĂȘncia ensolarada para SĂŁo Francisco e
uma paleta bem alegre para esta estreia. Toda a arte contrasta muito com a
personalidade escrota do protagonista e deixa a HQ com um clima muito bem
humorado durante toda a leitura.
Homem de Ferro Superior foi feita para desagradar. A mudança
radical na personalidade de Tony Stark segue os preceitos bĂĄsicos de narrativa
que preconizam que um personagem com um senso de moral distorcido e atitudes
questionĂĄveis Ă© sim muito interessante de acompanhar. Podem gritar aos quatro
ventos a palavra “descaracterização”. O fato Ă© que esta foi a intenção da
editora e ela responderĂĄ “TĂĄ bom… Foda-se”. Se isto aqui foi um erro ou um
acerto só o tempo e as próximas ediçÔes dirão. O fato é que analisando a
primeira edição isoladamente temos uma leitura ousada, divertida e engraçada,
apesar de nada heroica nem Ă©pica e nem nada disso que o fĂŁ de super-herĂłis
tradicional espera. O tom da HQ lembra um pouco os tĂtulos da nova Valiant, nos
quais os protagonistas nem sempre sĂŁo exemplos de bom comportamento. A arte
contrasta bem com a personalidade escrotal do personagem central e esta edição
de estreia acaba sendo uma estranha incĂłgnita mesmo para quem esperava algo
intragĂĄvel. E no final das contas a Marvel sabe que incĂłgnitas vendem gibi.
Por Igor Tavares
Fonte: Proibido Ler
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