Mais que uma ode à fase clássica do
Homem Sem Medo (aquela dos anos 60) criada pela dupla criativa Stan
Lee e John Romita, as novas aventuras do Demolidor sob o comando de Mark
Waid (Reino do Amanhã e LJA - Torre de Babel) vão muito além da
convencional ficção escapista, são um dedo na ferida, um manifesto sincero
contra toda hipocrisia, toda forma de preconceito e cumpre uma função social
raras vezes vista neste ramo do entretenimento.
O sexto encadernado desta nova série
acaba de sair no Brasil abrangendo as edições 31 a 36 do título original e
continua mantendo a ótima qualidade vista nos anteriores.
Na trama, uma mulher branca com
inclinações racistas efetua vários disparos contra um rapaz negro, matando-o.
Levada a julgamento devido ao crime, a ré é absolvida e o veredito causa
indignação por parte da opinião pública. O problema toma novas dimensões
quando o promotor público responsável pelo caso mobiliza as massas enfurecidas
a fim de que as mesmas peguem suas armas e façam justiça com as próprias mãos
contra os jurados da ocasião (ou pelo menos é o que parece).
Não bastasse dar uma roupagem
old school ao herói, com aventuras a la The Spirit que flertam
com os mais diversos subgêneros da literatura pulp, Waid optou por
mostrar um Matt Murdock mais bem resolvido com seu lado obscuro, mais
experiente, mais “de boa”. Entretanto, o Demolidor da vez continua azarão,
cheio de problemas pessoais e, como de praxe ,nem sempre leva a melhor sobre
seus oponentes.
Após comer o pão que o diabo amassou
(juro que não foi de propósito) nas mãos de pesos-pesados como Frank
Miller (Queda de Murdock), Kevin Smith (Diabo da Guarda) e Brian
Michael Bendis (Dossiê Murdock), Matt logra um merecido descanso. A
carreira de advogado segue rendendo bons frutos e a possibilidade de um novo
relacionamento amoroso surge com a introdução de uma nova personagem; Kirsten
McDuffie. A também advogada substitui Foggy Nelson, sócio e melhor amigo
de Matt que passa por uma situação difícil; o tratamento quimioterápico de um
câncer descoberto recentemente.
Ao tomar conhecimento do episódio
envolvendo o promotor James Priest e a histeria coletiva deflagrada
por ele através da TV, Matt deduz (na verdade, percebe com seus sentidos
ampliados) que a notícia fora manipulada e o discurso de Priest totalmente
distorcido. Tudo fazia parte de uma conspiração arquitetada pelos Filhos
da Serpente, uma organização antiga que prima pela supremacia branca e está
infiltrada no sistema judiciário e nos órgãos públicos de Nova York. A tal
organização havia contratado um vilão de terceiro escalão chamado Polichinelo para
falsificar a transmissão da coletiva de imprensa em frente ao tribunal. A
partir daí, o Demolidor entra em cena tentando evitar um linchamento e
indo ao encalço do vilão.
Uma premissa simples a princípio,
mas que gera uma boa discussão acerca de valores e hábitos arcaicos que as
sociedades teimam em manter vivos como a intolerância religiosa, o racismo e
xenofobia. Com chargistas franceses sendo fuzilado em seus próprios locais
de trabalho por extremistas islâmicos, tensões raciais nos Estados Unidos e
passeatas hostilizando imigrantes refugiados na Itália, é natural e necessário
que alguém se pronuncie sobre o assunto.
Numa cena inspirada da HQ, Kirsten
usa um megafone para realizar um discurso e dar um puxão de orelha em toda
a população da Big Apple que, movida pelo ódio, compromete justamente
aquilo que a torna tão especial; sua heterogeneidade, a coexistência pacífica
de gêneros, etnias, raças e nichos. A personagem sugere que cada cidadão
avalie aquela pessoa ao seu lado que tem se empenhado por torná-lo mais
intolerante, preconceituoso, dirigindo seu ódio contra aqueles que não fizeram
nada para merecê-lo. Esta tal pessoa pode ser um membro dos Filhos da
Serpente.
Após colocar o Homem Sem Medo ao
lado do Surfista Prateado numa aventura com “ares cósmicos” no volume
anterior, Waid decide investir no universo da magia desta vez. Buscando
encontrar o Tomo Negro (livro místico de grande importância para os
filhos da Serpente), o Demolidor pede a ajuda de um certo mago supremo de
Greenwich Village e se envolve com a causa do Esquadrão Monstro que
também está à procura do livro.
Um aspecto a ser enfatizado também é
a reação de Matt aos problemas de saúde de Foggy. Num momento tocante, ele pede
ao Doutor Estranho que reproduza um feitiço usado para salvá-lo de um
ferimento letal a fim de curar Foggy, mas não recebe a resposta que esperava. A
única coisa que Matt pode fazer para ajudar o amigo é manter a firma fundada
por ambos, Murdock e Nelson, funcionado e assim garantir que o plano de
saúde continue cobrindo o tratamento dele.O desfecho do volume deixa uma
interrogação no que diz respeito ao futuro profissional e financeiro do
advogado mais famoso de Hell’s Kitchen.
Considero Grandes Astros:
Superman a melhor HQ do Homem de Aço justamente pelo resgate que
Morrison se propôs a fazer da essência do personagem por meio de tramas
simples abordando temas profundos. Mark Waid parte da mesma ideia e
nos entrega uma pequena obra-prima dos quadrinhos contemporâneos. Para
quem acha que os super-heróis têm se levado a sério demais e precisa revisitar
seus ídolos de outrora, a nova fase do Demolidor é uma ótima pedida.
Por Jorge Ygor
Fonte: Cuzcuz Literário
4 Comentários
caramba esse texto é praticamente um livro!mas isso não é ruim! o Demolidor o cego justiceiro da Cozinha do Inferno' parece que está sendo bem conduzido por Waid pelos bons caminhos do Roteiro!! vou ler essa revista! Marcos Punch.
ResponderExcluirLeia e depois me diz o que achou.
ExcluirÀ propósito, o que você tem lido de Marvel e DC ultimamente?
eu gosto do Wolverine e os x-men o Logan e a Molecada de mutantes acho divertido!! tem um garoto loiro cheio de olhos pelo corpo ,um cara de Moicano e óculos que eu acho tem algum parentesco com o Gladiador(da Guarda Imperial Xiar...) Convergence eu tenho lido!! gostei de uma série curta Adam Strong e o Planeta Perigo !( acho que esse personagem é antigo..) eu tenho lido de tudo um pouco!! e sempre leio ( re-leio!!)Authority sou Muito Fã desses caras!! Marcos Punch
ResponderExcluirTambém acho Wolverine e os X-Men. O Jason Aaron consegue fazer histórias mais sérias com o Logan solo e mais divertidas com os alunos. É um bom escritor para o personagem. Só achei que, depois de provocar o "Cisma" o tal de Quentin Quire ficou livre demais na escola. Parece até que esqueceram o que ele aprontou.
ExcluirO Authority é o mesmo do Stomwatch não é? Preciso ler essa série toda, pois sempre ouço dizer que é muito bom.