O filme Homem-Formiga chega ao mercado
asiático e a expectativa de chegar a meio bilhão de dólares nas bilheterias é
grande. Chegou a hora de mais um bate-papo descontraído, analítico e opinativo
aqui no Planeta Marvel/DC. Eu e o colaborador Giulianno de Lima Liberalli
registramos nossas impressões. Mas antes, algumas palavras iniciais:
O ENREDO
Giu: A trama não é complexa. Gira em
torno de um ex-presidiário que está tentando dar a volta por cima que só é
reconhecido por um famoso roubo a uma grande empresa e um cientista que já foi
herói e que está tentando evitar que sua invenção caia em mãos erradas e o
fator chave para que uma grande ameaça ao mundo seja evitada é a união dos seus
talentos especiais, já que justamente o que o cientista precisa é de um especialista
em invasão e furto e o que o ex-presidiário não precisa é voltar para o crime,
mas a dificuldade que sua ficha criminal causa para conseguir um trabalho
decente e poder ficar em dia com a pensão para a filha o força a voltar para o
crime, só que dessa vez como herói. Funciona por ser simples, mas foi um risco
porque poderia deixar a trama com furos sem explicação, como o rompante do Dr.
Pym ao se afastar da SHIELD e da própria empresa que criou por não concordar em
ceder sua criação, mas os princípios básicos ficaram lá para o vilão trabalhar
em cima. Ponto interessante, em minha opinião, é a história mostrar que o
Homem-Formiga é um herói antigo, porém sua existência era secreta, assim como
suas missões.
Ro: Também concordo com
sua opinião sobre o roteiro Giulianno. Entregou justamente o que se propôs, ou
seja, um filme de assalto com os elementos necessários para um filme de
super-herói que pertence a um universo maior, neste caso, o universo
cinematográfico Marvel. Mantém a estrutura básica com a apresentação dos
personagens principais, as motivações do lado dos mocinhos e dos vilões, poucos
dramáticos, muito humor, o famoso confronto entre heróis, algumas referências
dos quadrinhos e a luta final entre o herói e o vilão. Com certeza foi um acerto
mostrar Hank Pym como um herói que já atuou no passado, o que deixou muitos fãs
dos Vingadores “originais” satisfeitos. Ainda com relação ao desenvolvimento da
história, achei pontual a citação de Hank Pym sobre a suposta batalha dos
Vingadores contra Ultron quando Scott sugere que os Vingadores deveriam ser
chamados para resolver o problema, e logo em seguida quando Scott deveria
supostamente invadir uma instalação Stark, mas que atualmente é a sede dos
“Novos” Vingadores vista no final de Vingadores – Era de Ultron.
OS
PROTAGONISTAS
Giu: MICHAEL DOUGLAS – O veterano ator dá mais uma mostra do seu
carisma, mesmo envelhecido, rouba a cena como o cientista em busca de redenção
e da reaproximação com a filha que o culpa pela morte da mãe. Ponto para a
equipe de efeitos que deu uma rejuvenescida nele na seqüência inicial que se
passa em 1989, ao lado dos envelhecidos Howard Stark (que sempre me lembra Walt
Disney) e Agente Carter, ficou muito boa e ele gostou tanto da experiência que
se prontificou a retornar nos futuros filmes.
PAUL
RUDD – Ele tem andado meio sumido,
se tornou um rosto famoso em comédias juvenis e participações em séries como
Friends, talvez seja justamente esse ar canastrão que se encaixou tão bem na
proposta do personagem, seu Scott Lang alterna entre o humor e a seriedade com
facilidade, não tem muita profundidade, mas funciona dentro do que o filme
precisa, achei ele bem a vontade no papel.
EVANGELINE
LILLY – Tem uma carreira mais breve
do que os seus colegas, esteve na trilogia do Hobbit como a elfa Tauriel,
Gigantes de Aço e Guerra ao Terror. Não teve muito mais a mostrar nesse filme
do que interpretar a filha com complexo de rejeição de Hank Pym até entender as
motivações do pai em mantê-la afastada do perigo, mas tem boa presença na película
além de ser muito charmosa. Achei ótima a cena aonde Scott interrompe a
reconciliação dos dois e quando Hank surpreende a ela com Scott no final. A
cena pós-créditos já deixou claro que sua importância na franquia vai aumentar.
COREY
STOLL – Darren Cross, o Jaqueta
Amarela, sua ficha profissional no cinema não é muito extensa, esteve em Número
23 e Salt, apareceu em séries como Alias, CSI, NCSI e The Good Wife. Talvez
seja por isso que não senti muita ameaça no seu vilão, faltou botar mais gás na
interpretação e me deixou novamente aquela impressão de ‘só estou aqui porque o
filme precisa de um vilão’, talvez Michael Rosenbaum que interpretou Lex Luthor
em Smallville fosse uma opção melhor para o papel.
OS
TRÊS PATETAS – Como Hank Pym
brilhantemente os definiu no filme, Luis (Michael Peña), Dave (T.I Harris)
e Kurt (David Dastmalchian) são os
ajudantes de missão do Homem-Formiga e os responsáveis pelo fundo cômico do
filme, uma boa sacada da produção que deixou o filme mais divertido e deu
suporte ao lado ‘normal’ de Scott Lang, em especial o latino Luís, quase sempre
hilário em cena, sua maneira de contar histórias cheio de voltas e detalhes foi
um dos pontos altos.
Ro: Sobre o elenco
principal, farei um apanhado geral. Gostei muito da participação do Michael
Douglas, sempre acho importante a participação de algum artista veterano e
conhecido. Parece dar a impressão de seriedade e um suporte extra ao elenco
como um todo. Lembro-me de quando estava assistindo Guardiões da Galáxia, e
minha esposa, que não lê HQs e só assiste aos filmes para me acompanhar, vibrou
quando viu A Glenn Close e também no filme Homem de Aço nas aparições de Russel
Crowe e Kevin Costner.
Assim como aconteceu com
Chris Pratt, eu não conhecia os trabalhos de Paul Rudd, mas me surpreendi com
sua atuação, bem natural e sem exageros, assim como a Evangeline Lilly.
O personagem de Michael
Peña me lembrou demais o personagem Leo Getz interpretado por Joe Pesci na
franquia Máquina Mortífera com Mel Gibson e Danny Glover. Parecia que a
qualquer momento o Luís ia dizer: “Okay, okay, okay, okay, okay....”. Não é uma
crítica, mas apenas uma observação que não pude evitar, pois para mim estava
bem evidente.
Sobre Darren Cross, que é
um vilão fundamental na história de Scott Lang como Homem-Formiga, achei que o
ator Corey Stoll foi bem dentro da proposta da personalidade do vilão –
arrogante, megalomaníaco, egocêntrico, egoísta. Diferente das HQs, o que é
compreensível quando estamos diante de uma adaptação.
OS EFEITOS
Giu: Não foram exatamente de ponta e o
efeito de encolhimento em 3D quase bateu minhas expectativas, mas diante de
outras produções que retrataram pessoas diminuídas diante de um universo normal
que se torna gigantesco, ficou muito bom, a produção diverte com várias sacadas
geniais do tipo o efeito que tem uma batalha entre super-humanos encolhidos é
devastador para eles, porém para nós em estatura normal, é quase ínfimo.
Destaque para o Homem-Formiga se enturmando com suas aliadas formigas durante o
treinamento, fora a aula de biologia sobre algumas espécies de formigas, até passei
a gostar mais delas.
Ro: Também gostei dos
efeitos, especialmente nos momentos de interação entre Scott e as formigas e
quando mostra a relatividade de tamanho com o ambiente. Achei divertido e
interessante a luta final, em alguns momentos é possível ver o ponto de vista
de Cassie observando seu pai e o vilão brigando dentro da sua maquete.
AS CONEXÕES
E O HUMOR
Giu: Não achei que ficaram forçadas as
conexões dos eventos do filme com os outros filmes da Marvel, em especial com o
vindouro ‘Guerra Civil’. A participação do Falcão ficou muito boa e divertida,
a presença da Agente Carter e de Howard Stark respeitando a passagem do tempo e
a referência aos Vingadores, em especial a última cena pós-créditos, se
encaixaram na história. Um dos pontos altos do filme é o humor, não transformou
o filme em uma comédia de super-heróis, mas mostrou que não é só drama um filme
de heróis, como o Homem-Aranha, mas esse teve muito mais do que os outros
filmes. Os elementos de comédia foram bem usados, como o treinamento de Scott
para se habituar aos poderes do traje ou aprendendo a lutar com Hope Van Dyne,
não fiquei com pena dele.
Ro: Mais uma vez, fiquei
com a impressão de “ler” mais uma história em quadrinhos da Marvel como parte
de uma história maior, bem conectado com os acontecimentos recentes, deixando
bem claro que se trata, não somente de um mesmo universo, mas de uma mesma
história longa. A atuação de Hank e Janet como Homem-Formiga e Vespa abre as
portas para os famosos retcons, como por exemplo, alguma participação do
Soldado Invernal para ajudar na construção de alguma origem, ou coisa parecida.
A participação do Falcão foi tão precisa que serviu para enfatizar o universo
coeso, além de ter sido bem divertida mesmo. O humor foi o de praxe e bem
usado. Só há uma cena em que eu, particularmente achei que não haveria
necessidade do toque humorístico - na
cena em que Hank explicava para Hope o que realmente havia acontecido com sua
mãe e o motivo dele ter desaparecido por tanto tempo, estando tão ausente na
vida filha. Foi uma cena com um tom dramático que não foi forçado.
AULA DE
BIOLOGIA
Giu: O filme também acerta dando
destaque as ‘companheiras de missão’ e falando sobre suas particularidades, uma
boa maneira de ver como esses insetos são dotados de capacidades únicas e como
vivem de maneira organizada. Temos a Paratrechina longicornis, ou formiga
louca, sempre elétrica e agitada como um cachorrinho e que acha equipamentos
elétricos uma ótima guloseima; Paraponera clavata, a arma secreta do
Homem-Formiga, seu ataque causa o nível mais alto de dor para uma mordida de
inseto; Camponotus pennsilvanicus, é o ‘pégasus’ de Scott, seu cavalo alado e
carinhosamente batizado de Anthony e as construtoras Solenopsis invicta, ou as
formigas de fogo, e provam que a união faz a força no filme com seu jogo de
cintura para se virarem em quase todo tipo de situação.
Ro: Não cheguei a
pesquisar sobre as formigas citadas no filme, mas é interessante saber sobre
essas particularidades reais. Dá credibilidade ao filme. De início achei que a
“247” que foi batizada de Anthony, era alguma referência ao Stark, mas o
contexto não indicou isso. Depois me lembro de ter lido algum artigo que se
trata de “Ant”hony com referência à palavra “formiga” em inglês.
SALDO FINAL
Giu: A Marvel conseguiu de novo, o
filme pode não se tornar um dos campeões de bilheteria da saga cinematográfica,
mas como experiência para os heróis menos conhecidos foi muito bem sucedida a
ponto de agradar a maioria da crítica, até mesmo George R. R. Martin elogiou o
filme. Até a próxima grande aventura do pequeno herói!
Ro: Fiquei muito
satisfeito com o saldo final. Para quem está acompanhando o universo
cinematográfico da Marvel e está gostando, foi um filme bem coerente com essa
proposta, por isso deve ter agradado a esse público também. Para os fãs e
conhecedores de HQs, é possível encontrar homenagens e referências, tais como o
Hotel Milgrom, uma homenagem ao roteirista Al Milgrom, que chegou a escrever
histórias dos Vingadores, Capitão Marvel, etc. Outra referência fantástica foi
quando Darren Cross cita “Tales to Astonish”, que é justamente o nome da HQ em
que o Homem-Formiga estreou na edição #27 em 1962. Além dos óbvios como o
agente Carson, Cassie Lang, Vespa e Homem-Aranha. A personalidade agressiva de
Hank também está presente e achei que ele foi bem retratado como um cientista
notável, o que o coloca no nível de Tony Stark e Bruce Banner, o que é bem
justo. Enfim, como um leitor veterano, me senti respeitado e minhas
expectativas para Guerra Civil são extremamente altas. Também torço por uma
continuação de Homem-Formiga, e quem sabe, um outro filme em forma de flashback
com Homem-Formiga (Hank Pym) e Vespa (Janet Van Dyne) na década de 1980.
Como comentado no bate-papo sobre
Vingadores – Era de Ultron (leia aqui), o “segundo encadernado” da grande saga
Marvel nos cinemas chega ao fim. Acertos e erros foram cometidos, assim como
aconteceu na Fase 1 e provavelmente acontecerá na Fase 3. Mesmo assim, no
geral, a Marvel tem se esforçado em apresentar produtos dentro de sua proposta
e presentear ao público em geral, e aos fãs de longa data e que conhecem bem o
universo Marvel nas HQs, o que tem me deixado muito satisfeito.
Por
Roger e Giulianno
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