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Colaboradores do Planeta: A Saga de Um Monstro – O Final da Jornada

A Panini nos brindou com a coleção completa da fase de Alan Moore em Monstro do Pântano, e nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli também conclui sua saga nos pântanos da Louisiana. Antes, leia a história do Monstro do Pântano aqui, a primeira parte da saga aqui e sua continuação aqui.



Quando Alan Moore assumiu o título do Monstro do Pântano, ele não só colocou um personagem de segundo escalão da DC entre os grandes da editora como criou uma sequencia de histórias que se tornaram um grande clássico das HQs, o autor britânico que trouxe ao mundo obras como Watchmen, V de Vingança e a insuperável A Piada Mortal fez do Monstro do Pântano um belíssimo exercício livre de imaginação que brotou dos distantes pântanos da Lousiana se estendendo para todo o mundo e deixando marcas que não se apagarão tão cedo. Com os volumes cinco e seis a Panini encerrou a publicação da Saga sob o comando de Moore e aqui cabem os parabéns para a editora por tê-la publicado do início ao fim, mesmo com todos os protestos sobre a qualidade do papel usado que não atrapalhou a chegada até o último volume. E a Saga se encerra de maneira fantástica, poética e deixando uma grande questão que assombra o mito do super-herói: Mesmo com todo o seu poder, cabe a ele mudar o rumo da humanidade?

Depois de desempenhar um papel pequeno, porém muito importante, na luta entre as forças do bem e do mal no limbo, Alec não tem noção dos problemas que Abby vem passando na dimensão dos vivos, um fotógrafo sensacionalista flagrou os dois juntos no pântano e vendeu as fotos para um tabloide local, a repercussão foi péssima para Abby que acabou presa e demitida da instituição aonde trabalhava ajudando crianças especiais. Taxada de depravada e maníaca sexual por se relacionar com algo não humano ela vê sua vida se transformar em um pesadelo, sua ex-chefe paga sua fiança em consideração ao bom trabalho que tinha com as crianças, só que isso não serve de consolo já que a opinião pública não para de persegui-la enquanto aguarda a data do seu julgamento. Sem conseguir suportar a situação decide fugir e acaba parando em Gotham City, durante uma blitz policial Abby é presa junto com outras prostitutas enquanto procurava um lugar para ficar, é reconhecida na delegacia e fica sob custódia aguardando a decisão da justiça, nesse meio tempo Alec retorna da dimensão dos mortos e vai procurar Abby, nos pântanos encontra Constantine e ambos discutem sobre o saldo da sua batalha mística e quando Alec diz que vai encontrar a amada, Constantine ironicamente lhe pergunta: “Como se irrita um vegetal?” Alec não entende a pergunta até chegar a casa de Abby e não a encontra, ao invés disso se depara com o jornal trazendo a história sobre o encontro dos dois nos pântanos, desnecessário dizer que ele entendeu a pergunta de Constantine e parte desesperadamente em sua busca.

Em Gotham a prisão de Abby gera um conflito entre as pessoas que julgam seus atos abomináveis e aqueles que defendem seu amor pela criatura do pântano, muitos acham que a história é sensacionalista e duvidam da existência do Monstro até que durante uma audiência pública antes de sua extradição, Alec consegue localizar Abby através do verde e dispara em direção à amada com todo o seu poder, a invasão de Alec ao tribunal é um dos melhores momentos de toda a saga, o choque das pessoas ao ver o Monstro do Pântano chegando através de uma rosa é impagável e dá um ultimato a cidade estarrecida: Devolvam minha esposa ou sofram as consequências. E pela segunda vez os caminhos do Monstro do Pântano e do Cavaleiro das Trevas se cruzam, seu primeiro encontro será mostrado se, algum dia, a Panini publicar a segunda parte do especial RAÍZES, com as primeiras histórias do Monstro.


Decidido a mostrar que suas intenções são sérias, Alec transforma toda Gotham em um verdadeiro Jardim do Éden dominando toda a cidade com vida vegetal, a população fica envolvida pela história de amor da bela com o avatar vegetal, muitas das pessoas abraçam essa vida no paraíso, porém a lei e a prefeitura passam por sérios problemas causados pelos simpatizantes do Monstro e a vida selvagem trazida pela dominação do verde, Batman tenta dialogar com Alec, até tenta enfrenta-lo, mas a determinação dele em libertar sua amada o faz ignorar os ataques ineficazes do herói e seus ultimatos para a libertação de Abby ficam cada vez mais incisivos e perigosos. Compreendendo os riscos de irritar cada vez um ser tão poderoso como Alec, Batman decide alertar as autoridades sobre o risco de encarar a fúria do elemental e os lembra que se o problema é o amor entre seres totalmente diferentes, existem muitos outros relacionamentos que poderiam ser questionados já que heróis alienígenas não são novidade na Terra, como o Gavião Negro, Estelar e o próprio Superman. O que eles não desconfiam é a trama que se desenrola nos bastidores comandada pelos herdeiros de Sunderland, planejando se vingarem de Alec pela morte do general, contratam ninguém menos que Lex Luthor para desenvolver um artefato capaz de matar o Monstro.

Abby é perdoada e libertada para retornar aos braços de Alec, porém no momento do reencontro ele é alvejado pelo artefato de Luthor diante de Abby e toda a cidade atônita, seu corpo queima até virar cinzas na frente de todos e ele é dado como morto, uma homenagem póstuma é feita, incluindo uma divertida participação do Desafiador prestando seus pêsames a Abby. Porém o que ninguém desconfia é que Alec não foi morto, sua estrutura foi desestabilizada e sua essência perdeu a conexão com a vida vegetal da Terra, indo parar no espaço, dando início ao ato final da jornada de Moore jogando o Monstro do Pântano em uma viagem pelo espaço, vivendo experiências que nunca havia imaginado. Uma de suas primeiras paradas é o planeta Rann, mundo das aventuras do herói Adam Strange. Temos o típico desentendimento inicial no encontro entre heróis, Adam se compromete a ajudar Alec em troca de sua ajuda para reativar a vida vegetal do planeta que se encontrava esterilizada devido a guerras nucleares responsáveis por devastar as áreas férteis e produtivas do planeta, mas acaba enfrentando thanagarianos raivosos que tinham intenções de negociar ajuda a Rann em troca dos segredos do Raio Zeta, a tecnologia que permite Adam viajar da Terra para Rann e vice-versa. Após ajudar Rann, Alec se lança ao espaço em busca de encontrar um meio de retornar para a Terra.

Nesse meio tempo, Abby está enfrentando sua parcela de dificuldades na Terra tentando se adaptar a vida sem Alec, um relato das aparições de uma criatura monstruosa no pântano dá a ela esperanças do retorno do seu amado, porém o que ela encontra é o que restou do seu pai cujo corpo foi grotescamente reconstruído por seu tio, Arcane, que está pagando pelos seus pecados nas profundezas do inferno, a história sobre o pai de Abby é mostrada no especial RAÍZES com as primeiras histórias do Monstro do Pântano. Procurando levar uma vida normal trabalhando em um asilo de idosos, Abby também abrigou Liz Tremayne, que esteve afastada de tudo e de todos pelo marido psicótico, e conta com o apoio de Chester Willians, o hippie naturalista que ficou fascinado pelo Monstro após encontrar um dos seus tubérculos alucinógenos. No espaço, a consciência de Alec é interceptada por um planeta tecnológico vivo que sente estranhas emoções ao se conectar com o vegetal vivo, o título da história é uma homenagem a uma música do recentemente falecido David Bowie: Loving a Alien e narra as sensações do frio mundo mecânico quando tenta incorporar a essência natural do Monstro, após sobreviver a esse encontro ele vai parar em J586, lar de Medphyll, o Lanterna Verde vegetal e como não esperava se deparar com uma sociedade vegetal consciente o primeiro contato com eles é desastroso, por sorte o Lanterna identificou o problema sabendo como resolvê-lo sem perdas de vidas, indiretamente isso acabou ajudando Alec a entender melhor o meio de retornar para seu mundo enquanto vagueia pelas estrelas, mas logo depois de sua partida ele é interceptado por Metron e sua poltrona Mobius diante da Grande Barreira enquanto este fazia uma investigação solicitada por Darkseid, juntos tentam desvendar o que existe além da barreira que aprisionou vários titãs cósmicos que tentaram atravessá-la.

O conhecimento adquirido por Alec mostra ser suficiente para coloca-lo no caminho certo para retornar a Terra. A penúltima história, Pontas Soltas (reprise), é uma das melhores histórias de toda a saga, honestamente parece que um livro de Stephen King foi adaptado para os quadrinhos e mostra a revanche de Alec para com aqueles que o exilaram da Terra e o privaram do contato com Abby de uma maneira assustadora, pois ele mostra que tudo aquilo que tem uma ponta de vida vegetal está sob o seu domínio e pode ser usado das maneiras mais ameaçadoras e mortais possíveis deixando claro que seu poder não deve ser subestimado. Logo depois de cuidar daqueles que o expulsaram do planeta, é a hora de retornar para casa e para Abby. Alec reencontra a amada e suas vidas voltam ao normal, mas com tudo que lhe aconteceu, o elemental tem um grande dilema em mente: Ele pode reestabelecer o equilíbrio da vida vegetal do planeta, erradicar a fome, transformar o planeta em um paraíso verde, mas é o seu direito tomar essa decisão por nós? Se tornar o salvador da humanidade e tirar essa responsabilidade dos ombros dos homens? Esse é o dilema que assombra a vida dos heróis mais poderosos: Proteger a humanidade ou controlar o seu destino? A definição dada por Moore é simples, porém lógica: A raça humana não pode ser privada dos seus desafios sob pena de se tornar inútil e preguiçosa sabendo que seu salvador estará lá para corrigir seus erros e o elemental e sua amada decidem construir seu paraíso particular e viver somente para si mesmos.


Com uma participação especial na última história, Alan Moore se despede dos pântanos da Lousiania e do personagem que ajudou a redefinir e dar uma nova roupagem de maneira simples e emocionante, a saga do Monstro do Pântano sob o seu comando chega ao fim e os leitores ficam com a sensação de que passaram por um momento raro nas HQs, a desconstrução e a recriação de um personagem feitas de maneira marcante e irretocável criando um novo clássico das HQs, material que não pode faltar na coleção de qualquer leitor que admira o mundo dos super-heróis e aprecia histórias feitas não só para divertir, mas para refletir também.

“Então ser Deus é... isso? Saber e... nunca fazer? Observar o mundo girando... E nessas voltas... Encontrar satisfação?” – Alec Holland


Por Giulianno de Lima Liberalli

Colaborador do Planeta Marvel/DC

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