Nosso Colaborador Giuliano de Lima
Liberalli está de volta após uma viagem exploratória no universo de Watchmen. Com
os 30 anos de Watchmen e sua possível adesão ao universo DC Rebirth, nada mais
adequado do que essa bela homenagem. - Roger
“Quem vigia os vigilantes?” Essa frase
promocional junto com a imagem de um relógio próximo da meia-noite anunciava o
lançamento de uma das mais celebradas e cultuadas HQs que causou uma grande
mudança no modo como vemos o mundo dos super-heróis há 30 anos: WATCHMEN. A
década de 80 é uma das mais lembradas na cultura pop, no cinema tivemos a
enxurrada de sucessos como De Volta Para o Futuro, Exterminador do Futuro,
Caça-Fantasmas, Os Goonies e Curtindo a Vida Adoidado. Na TV estrearam séries
inesquecíveis como MacGyver, Esquadrão Classe A, Miami Vice, Galactica e até o
Brasil entrou na onda com Armação Ilimitada. Os quadrinhos de super-heróis
também ganharam destaque nesses tempos inovadores com histórias que despertaram
outra visão sobre o universo dos heróis e suas verdadeiras motivações.
Dos
talentos de Alan Moore e Dave Gibbons surgiu a série que mudou a forma de se
enxergar os quadrinhos de heróis, de simples literatura juvenil para um
material voltado para o mundo adulto, popularizando o termo graphic novel e
elevando o status dos quadrinhos à material de destaque nos meios de comunicação.
Hoje é inegável a sua influência tanto para autores como para os leitores,
aqueles que tiveram o prazer de ler na época do lançamento, como este humilde
nerd jurássico que vos fala, sentiram a onda de mudança na sua origem e nunca
mais olharam para os quadrinhos de heróis da mesma forma. A envolvente história
sobre uma ameaça que ronda vigilantes de um mundo alternativo, ocultando um
perigo ainda maior se movendo nas sombras apresentou personagens marcantes como
O Comediante, Rorschach, Dr. Manhattan, Ozymandias e Coruja lidando com temas
como conspirações, guerra, estupro e violência de maneira direta, crua e adulta
como nunca antes vista.
A
série ganhou prêmios importantes como o Kirby e o Eisner, até um Prêmio Hugo
especial, e é relançada até hoje, um sucesso que só é igualado por Batman - O
Cavaleiro das Trevas; na nova fase da DC: REBIRTH tem uma indicação
que o universo de Watchmen pode ser incorporado oficialmente ao universo DC
tradicional, dando a entender que o papel do Dr. Manhattan pode ser muito maior
do que se pensa, ao ponto de ele ser o responsável pela criação desse universo
reformulado. Mas não é sobre esse novo ângulo que o universo de Watchmen está
sendo revisitado que estou dedicando esse texto, é como essa HQ abriu as portas
de um novo universo para as comics. Já falei em um artigo anterior sobre a
censura nas HQs e o quanto isso pesou para a liberdade dos escritores, porém o
tempo passou e essas censuras foram perdendo sua força aumentando o campo para
trabalhos mais ousados e atuais.
Nesse
mesmo período heróis tradicionais receberam obras que só reforçaram a chegada
dessa nova onda: Demolidor com a saga BORN AGAIN e Batman com a insuperável THE
DARK KNIGHT RETURNS. Watchmen inovou trazendo um universo um tanto quanto
espelhado nos heróis e vigilantes tradicionais, mas com um pano de fundo muito
amplo e sinistro, uma imensa conspiração ameaçando velhos e novos heróis que só
se revelou na última edição ligando os pontos com assustadora maestria,
ambientada em uma realidade alternativa aonde o antigo ódio entre as grandes
potências e a tensão de um conflito nuclear nunca foram tão grandes, daí a
representação do relógio nas capas das edições e na divulgação que remete ao
famoso Relógio do Juízo Final, criado em 1947 durante a Guerra Fria para
registrar o quanto a humanidade se aproxima da meia-noite, que seria o fim dos
tempos, até hoje ele já se moveu 21 vezes para mais perto ou mais longe do
apocalipse, atualmente estamos a seis minutos disso. Assustador, não?
Na
galeria de personagens temos o onipotente Dr. Manhattan, a representação do
poder supremo não só na figura do super-herói como na figura da potência
mundial que são os Estados Unidos, simbolizando que nada pode impedir o avanço
dos americanos na dominação mundial em um mundo alternativo onde os EUA
venceram a Guerra do Vietnã, conhecida como uma das maiores vergonhas
americanas, a política poucas vezes foi exposta de maneira tão crua e violenta;
Ozymandias, com sua inteligência absurda e manipuladora mostra o perigo que seria
se um Tony Stark decidisse usar seus recursos para se tornar uma potência
tecnológica dominadora; Coruja, obviamente inspirado no Batman, é um vigilante
receoso que atuou no passado quando o heroísmo estava em alta antes de ser
considerado como perigoso e fora-da-lei juntamente com Ozymandias, Dr.
Manhattan, Comediante, Espectral e Rorschach, vendo o rumo que as coisas
tomavam optou por uma precoce aposentadoria, porém as circunstâncias geradas
pelos assassinatos de heróis como o Comediante o forçam a tomar uma posição;
Rorschach é o melhor exemplo do perigo que se tornar um vigilante representa
para a mente humana, é estar de pé diante de um abismo se perguntando se você
está olhando para ele ou ele está olhando para você aguardando o momento em que
você irá se jogar e o aceitar, sua passagem pela prisão e quando finalmente
revela o que fez com que se tornasse um violento perseguidor de criminosos são
alguns dos melhores e mais marcantes momentos da série; Espectral é herdeira do
manto de sua mãe, uma antiga vigilante aposentada, que se apaixona pelo Dr.
Manhattan e abandona a vida de heroísmo para viver com ele até se dar conta de
que tudo para Manhattan não passam de peças de um grande mecanismo, girando e
obedecendo a uma complexa ordem universal manipulada por um poder superior, seu
personagem remete a uma Canário Negro sem poderes e temos aquele que é o elo
entre todos os acontecimentos da história que se inicia, ironicamente, com sua
morte: O Comediante, um perigoso vigilante que lutou junto aos heróis herdeiros
do manto dos “Minutemen”, equipe que deu início a moda dos vigilantes, de
personalidade marcante e violenta, esteve em todos os grandes acontecimentos
até perceber qual era o seu lugar no grande esquema da trama que mudaria o
mundo e cair em si tomando consciência de que a grande piada pela qual lutou
teria um final nem um pouco engraçado, sua expressão de pavor e desespero ao
confessar isso a um antigo vilão é inesquecível.
Hoje
Watchmen goza do status de HQ que não tem previsão para parar de ser impressa,
o que só atesta a sua relevância para o mundo dos comics. Pouco tempo atrás a
DC revisitou esse mundo lançando uma série de especiais chamada BEFORE
WATCHMEN, mostrando acontecimentos anteriores na vida dos heróis antes da saga,
mas não rendeu o efeito desejado mostrando que certas obras não precisam de
complementos ou maiores extensões, são completas por si só. Em 2009 foi lançada
a adaptação para o cinema da HQ dirigida por Zack Snyder com um elenco
talentoso com Patrick Wilson no papel do Coruja, Jackie Earle Haley como
Rorschach e Jeffrey Dean Morgan como O Comediante; na minha opinião só perde
para o primeiro SUPERMAN com Christopher Reeve como uma das melhores adaptações
feitas de uma HQ para um filme, o cuidado visual e o respeito ao universo de
Watchmen o tornam uma produção fantástica, pena que não foi compreendida e
aceita pela crítica e público como merecia.
Os
efeitos do “Big Bang” do seu lançamento perduram até os dias de hoje e se os
quadrinhos de heróis tem toda essa atenção atualmente, é a essa obra que devem
agradecer.
“Somos
todos marionetes, Laurie. Eu sou apenas uma marionete que vê as cordas.” - Dr. Manhattan
Por Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC
5 Comentários
Achei interessante relembrar o contexto em que nós, brasileiros, lemos Watchmen quando foi lançado originalmente pela Ed. Abril, era fã de Esquadrão Classe A e Miami Vice. Alan Moore apresentou uma história nua e crua sem se preocupar com faixa etária e Dave Gibbons era o desenhista perfeito para isso. Também achei interessante as comparações dos personagens de Watchmen com outros já conhecidos do público leitor. Eu vi em algum lugar que esses personagens também foram baseados em alguns da antiga Carlton Comics, como Capitão Átomo, Questão e Besouro Azul e acho que já dá até para perceber quem é quem. Aliás, o Rorschach do Earle Haley ficou demais, o ator é bom mesmo. Quer dizer, o elenco é muito bom e deram vida a esses personagens tão carismáticos. Uma bela e merecida homenagem, sem dúvida, Giulianno.
ResponderExcluirQuando ela foi lançada em mini-série pela Abril eu ficava lendo e relendo os capítulos lançados até o lançamento do próximo, pescando cada detalhe e cada vez mais admirado de ver temas tão impactantes em uma HQ. Podemos dizer que a saga é de um universo "espelhado", realmente vários personagens foram inspirados em clássicos como você citou como um "O QUE ACONTECERIA SE..." tão famoso na Marvel voltado para o Universo DC, tipo uma versão muito mais poderosa do Capitão Átomo na pele do Dr. Manhattan ou Questão, o vigilante sem rosto, representado pelo Rorschach com seu sobretudo e chapéu e por aí vai.Eu não podia deixar de falar sobre essa série que me inspirou a ler mais, ver o mundo das HQs sobre outro ângulo e escrever sobre comics. Esse marco merece, Roger.
ExcluirPuxa, então você fez muito bem, ao reler as edições em mãos, enquanto esperava a continuação. Isso realmente deve ter ajudado a ter um entendimento melhor. Acho que se eu tivesse feito isso na época, minha experiência com Watchmen teria sido diferente. Falando nisso, me lembrando da sua foto segurando a edição definitiva do Watchmen na Bienal do Livro, quero dizer que consegui adquirir essa edição recentemente e com desconto. Foi mais ou menos da mesma forma que você tem feito em suas compras de encadernados com desconto.
ExcluirPuxa, que bom que conseguiu sua edição e ela vale cada centavo, se bem que Watchmen, como falei no texto, não tem previsão de esgotar. E já comecei a me programar para a Bienal de 2017, se tudo der certo estarei lá. Agora me tira uma dúvida: Foi proposital a hora da postagem do artigo ser 00:00:00? Ou mera coincidência? Essa é a hora do ápice da saga de Watchmen...
ExcluirQue legal, ter a oportunidade de visitar a Bienal novamente. Desde já, fico na expectativa de saber as novidades que você trará de lá. Ah sim, o horário da postagem foi proposital sim...rs.
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