Nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli
aterrissa no setor 2814 e observa duas lendas da DC juntando forças e
perspectivas para o bem maior do planeta Terra.
“Quando o consagrado editor Julius Schwartz convocou
o roteirista Dennis O’Neil e o desenhista Neal Adams para
revitalizar o título do Lanterna Verde, a revista passou a apresentar
– além da cada vez mais espetacular arte de Adams – conteúdos muito mais próximos
das questões sociais prementes que permeavam a época. Tal abordagem, somada à
presença do rebelde Arqueiro Verde fazendo contraponto à atitude
mais “ordeira” de Hal Jordan, catapultou as histórias a seu
atual status… de lenda absoluta! A coleção Lendas do Universo
DC: Lanterna Verde/Arqueiro Verde traz de volta, na íntegra, uma fase que
não só influencia as HQs até hoje, como permanece uma leitura espetacular!”
Esse resumo não poderia ser mais honesto, a coleção
Lendas do Universo DC trás para os fãs um dos materiais mais emblemáticos dos
anos 70 em uma leitura que, apesar de ter temas muito datados para os dias de
hoje, não perderam o seu valor e são relevantes até os dias de hoje como o
racismo e o interesse financeiro acima das necessidades humanas.

Como acontece com quase todos os grandes heróis das
editoras, chegam momentos que seus títulos precisam passar por uma renovação
para continuar agradando aos leitores e trazer novos fãs, nesse caso o lendário
editor Julius Schwartz acertou em cheio na química de unir dois heróis “verdes”
para levar assuntos mais maduros para o mundo das HQs. Lanterna Verde já era um
personagem consagrado da DC e o Arqueiro Verde já era um dos grandes da editora
e o mundo passava por momentos de rebeldia e questionamento, então unir aquele
que representa a manutenção da ordem e o que age em prol dos fracos e
injustiçados contra os males mais comuns do homem como a ganância e a
segregação racial pareceu um golpe de mestre, e foi.
Para quem não teve a oportunidade de ler esse
material, é a chance de correr atrás e ter na biblioteca esse material único e
premiado, quem ler entenderá. Nesse primeiro volume temos as histórias que
deram início a essa jornada pela América que a América queria ignorar.
Começando pelo embate entre o Lanterna ao defender um
homem de agressão e o Arqueiro defendendo os agressores já que o homem em
questão era um inescrupuloso proprietário de imóveis que ia despejar os pobres
inquilinos para desocupar a área, o Lanterna cai em si, percebendo que protegeu
demais o espaço se esquecendo das necessidades dos seus irmãos terrestres,
porém os Guardiões não aprovam a iniciativa e o repreendem severamente até o
Arqueiro argumentar que os insensíveis imortais não tem noção do que seriam os
sentimentos como compreensão e compaixão pelo sofrimento alheio, tipo “Deuses,
desçam aqui e sofram com a gente!”. Curiosos como são, designam um deles para
viajar com os heróis e aprender mais sobre o que é ser humano, assim a viagem
começa recheada de questionamentos e discussões entre dois amigos de interesses
comuns e visões um pouco diferentes de como lutar pela justiça.

Viajando pelo interior do
país se deparam com mais desafios representados por homens oprimindo cidades
inteiras apenas para lucrar e enriquecer usando de meios escravos com mão de ferro,
fanáticos religiosos e comunidades indígenas humilhadas pelo avanço da
sociedade branca. Cabe aqui uma comparação interessante: Como se sabe os
indígenas americanos são um dos povos mais antigos dos Estados Unidos e foram
aos poucos destituídos das suas terras, origens e costumes pelos novos senhores
brancos, colonizadores que “desbravaram” as terras antigas para estender seu
domínio no novo mundo sem se importar com o valor deles para a história,
processo semelhante ocorreu no nosso país com os índios perdendo tudo que
tinham para serem dominados pelos europeus. Aqui está uma das maiores e
agressivas críticas ao modo americano dessas histórias de Lanterna Verde e
Arqueiro Verde, o respeito que esse povo merece foi apagado pela ganância do
homem branco.
Fechando o primeiro volume temos o Guardião sendo
julgado por salvar a vida do Lanterna ao invés de impedir um desastre ambiental
em um rio, pois ele colocou a vida de um amigo acima do interesse maior da
sobrevivência de um ecossistema já muito prejudicado pela liberação ilegal de
lixo industrial. Falar mais seria entregar muitos detalhes desse material que
vale muito a pena ser conferido, leitura mais do que recomendada, tanto pelos
argumentos do sensacional Dennis O´Neil considerado como um dos precursores dos
quadrinhos adultos, aqui dá para entender o porquê, e o desenhista Neal Adams
que dispensa apresentações, basta conferir suas passagens por títulos como
Batman, Vingadores e X-Men. Aliás a dupla é responsável por encerrar a fase
colorida do Homem-Morcego nas HQs, resgatando a aura mais sombria e violenta do
personagem.
No próximo volume dessa coleção, mais material
clássico como a controversa história em que o Arqueiro descobre que o Ricardito
passa problemas com vício em drogas. Imperdível.
Por Giulianno
de Lima Liberalli – Colaborador do Planeta Marvel/DC