Olá, leitores do Planeta Marvel/DC,
estou continuando a viagem pelo tempo que iniciei na primeira parte desses
artigos sobre a origem e os primórdios dos quadrinhos nacionais, os primeiros
personagens e as publicações que marcaram a história investindo no talento
nacional da arte de criar HQs remontam do final do século 19 para meados do
século 20 e o movimento que começou timidamente aos poucos foi tomando força e
se espalhando pelo território nacional, antes de continuar uma breve satisfação
sobre essa coluna: como o tema principal do blog é o que acontece nos Universos
Marvel e DC, eu não tinha investido em uma série de textos sobre o trabalho dos
profissionais nacionais e os seus personagens criados em nosso país, mas agora
busco me redimir e prestar as devidas homenagens às obras desses talentosos
artistas cuja qualidade é reconhecida até nos concorridos mercados do exterior.
Desculpas dadas, podemos prosseguir.

Continuando na década de 60, mais
precisamente em sete de abril de 1963, é fundada a Escola Panamericana de Arte
em São Paulo com aulas presenciais e curso por correspondência, uma iniciativa
pioneira para ensinar as mais diversas formas de artes publicitárias e gráficas
profissionais e teve no seu quadro de professores nomes de peso como Hugo
Pratt, criador de Corto Maltese; Nico Rosso, famoso
por seus trabalhos em histórias de terror como Drácula; e Jayme
Cortez, importante chargista e desenhista responsável por artes para
revistas como Terror Negro, Sobrenatural, Mazzaroppi
e Oscarito & Grande Otelo, em homenagem ao conjunto de sua
obra os organizadores do Prêmio Angelo Agostini criaram o Troféu
Jayme Cortez dado anualmente a uma personalidade ou instituição pela sua
contribuição no mercado de quadrinhos, prova de que o mercado de quadrinhos
apresentava um futuro promissor.
Em 1964 o desenhista Minami Keizi
apresenta o personagem Tupãzinho, O Guri Atômico, inspirado em
Astro Boy, inicialmente seguindo o estilo mangá para depois adequar ao estilo
americano, muito mais popular na época e o personagem chega a ganhar uma
revista pela Editora Pan Juvenil de Salvador
Bentivegna e Jinki Yamamoto, em seguida os mesmos convidam Keizi a ser
sócio da EDREL (Editora de Revistas e Livros), aonde surgiu o talento do
descendente de japoneses Cláudio Seto criador de personagens como Flavo,
Ninja, O Samurai Mágico, Maria Erótica e O
Samurai, outros descendentes também trabalharam na editora como
Fernando Ikoma, um dos roteiristas de O Judoka e os irmãos Paulo
e Roberto Fukue, este último é um ilustrador que trabalhou em revistas como Senninha,
Sítio do Pica Pau Amarelo e A Turma do Arrepio. Edson
Rontani lança em 1965 Ficção, o primeiro fanzine brasileiro
dedicado a histórias em quadrinhos, o artista Gedeone Malagola criou heróis
brasileiros para a editora GEP baseado em heróis americanos como Raio
Negro, inspirado no Lanterna Verde, o Homem-Lua e HydroMan,
inspirado no Namor, também surgem Fantar de Milton Mattos e
Edmundo Rodrigues e Bola de Fogo, O Homem do Sol, baseado no
Tocha Humana e que só teve uma edição. Em 1967 Colonesse cria Mirza, A
Mulher Vampiro e Helena Fonseca com Nico Rosso criam Naiara, A
Filha do Drácula para concorrer com a personagem de Colonesse. Em 1969
Pedro Anisio e Eduardo Baron criam O Judoka, que contou com as
artes de Eduardo Baron, Mário José de Lima,
Fernando Ikoma e Floriano Hermeto, este chegou a ganhar uma adaptação para os
cinemas nacionais em 1973, em junho do mesmo ano Jaguar com os jornalistas
Tarso de Castro e Sérgio Cabral lançam o semanário O Pasquim,
famoso por reunir grandes talentos dos quadrinhos e das charges nacionais como
Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil, Prósperi e Fortuna, esta publicação ficou
famosa por criticar fatos e normas do governo, chegando a ser perseguida pelas
autoridades federais. Zé do Caixão, personagem de José Mojica Marins, ganha uma
revista em quadrinhos: O Estranho Mundo de Zé do Caixão, por R.F.
Lucchetti, também criador de Juvêncio, O Justiceiro do Sertão.
Entramos na década
de 70 e os quadrinhos infantis estão em alta graças ao crescente sucesso dos
personagens de Maurício de Sousa, a Editora Abril monta um estúdio para
artistas nacionais trabalharem com personagens licenciados da Disney,
principalmente o Zé Carioca e também com alguns personagens dos
estúdios Hanna-Barbera, a Abril adquiriu os direitos para produção e publicação
de suas histórias em território nacional. Em 1974 a Abril lançou a Revista
Crás, uma iniciativa de abrir espaço para material nacional como Satanésio
de Ruy Perotti e Kaktus Kid de Canini, conhecido desenhista do Zé
Carioca, que durou até 1975, antes em 1971 foi lançada uma publicação chamada Super
Plá que durou sete edições e trouxe várias tiras estrangeiras, entre elas
duas brasileiras: O Praça Atrapalhado, uma versão nacional do
Recruta Zero, e Dr. Estripa de Eduardo Carlos Pereira. Em 1972
Keizi sai da EDREL devido a divergências na sociedade e funda a Minami &
Cunha Editores com Carlos da Cunha, a editora lança as revistas Múmia
e Lobisomem escritas por Gedeone Malagola e desenhadas por
Ignácio Justo, Nico Rosso e Kazuhiko Yoshikawa, nessa editora foi publicada a
revista Dr. Mistério que não era ninguém senão o Dr. Estranho da Marvel,
a Panini Comics mencionou brevemente esse fato no texto de introdução na
estreia da revista do Doutor Estranho. Em 1973 é lançada A Patota
que trazia os personagens nacionais Marly, de Milson Abreu
Henriques e Dr. Fraud, de Renato Canini em meio a pesos pesados
estrangeiros como Mafalda, Snoopy, Zé do Boné e Hagar, O Horrível, nesse mesmo
ano Henfil se muda para os Estados Unidos para fugir da ditadura e se tratar de
leucemia, lá consegue que sua criação Os Fradinhos seja
distribuída pela Universal Press Syndicate, mas não atinge sucesso devido à
alta censura americana e O Cruzeiro Infantil publica as aventuras do Capitão
Asa, famoso herói de programas de rádio. Em 1974 é criado o evento do
Salão Internacional do Humor de Piracicaba e em 1975 a editora O

Cruzeiro é fechada
tendo seus títulos assumidos pelas editoras Vecchi e Abril, nesse ano a Bloch
Editores assume todos os títulos Marvel no Brasil e entre esse material tinha a
revista do Mestre do Kung Fu que trazia material brasileiro criado por Júlio
Shimamoto e entre 1976 e
1987
a editora publicou regularmente a revista baseada no
programa
Os Trapalhões produzida pelo estúdio do quadrinista Ely
Barbosa. No mesmo ano a editora Vecchi lança
MAD, misturando material
estrangeiro e nacional sob o comando do cartunista Ota, e
SPEKTRO no ano
seguinte republicando histórias lançadas na La Selva e trazendo material novo
pelas mãos de Manoel Ferreira, Itamar, Cesar Lobo, Eugênio Colonnese, Julio
Shimamoto e Flavio Colin, mais publicações contendo material nacional foram
surgindo como Gibi Semanal, Almanaque do Gibi, Gibi Especial, Almanaque do Gibi
Nostalgia republicando material clássico como
A Garra Cinzenta e
Almanaque do Gibi Atualidade, com material recente. Em 1975 é lançada a revista
O Bicho trazendo histórias de Márcio Pitiliuk, Paulo Caruso, Fortuna,
Guidacci, Nani, Coentro e relançando personagens como
Ignorabus, O
Contador de Histórias de Carlos Estêvão e Millôr Fernandes e
O
Capitão de Jaguar, alunos da USP lançaram a
revista
Balão de
Laerte Coutinho e Luiz Gê, com grandes nomes como Paulo e Chico Caruso,
Xalberto, Sian e Guido, em
1977
a Editora Três publica a revista do
Falcon,
famoso boneco de ação da Estrela na época, com roteiros de Teresa Sainderberg e
Walter Negrão, a arte ao cargo de Antonino Homobono e Michio Yamashita, no ano
seguinte Cláudio Seto monta um núcleo de quadrinhos na Editora Grafipar com
profissionais como
Mozart Couto, Watson
Portela, Rodval Matias, Ataíde Braz, Sebastião Seabra,
Franco de Rosa, Flávio Colin, Júlio Shimamoto e Gedeone Malagola, nisso lançou
a revista com novas histórias da sua personagem Maria Erótica e
em 1979 a
Vecchi publica o faroeste Chet dos irmãos Wilde e Watson Portela.

Chegamos à década de 80, já iniciada
com o lançamento de O Menino Maluquinho, criação máxima de
Ziraldo em 1980, no ano seguinte Rodolfo Zalla e Eugênio Colonnese transformam
o estúdio D-Arte em editora responsável por títulos como Calafrio,
Mestres do Terror, o palhaço Sacarrolha de
Primaggio Mantovi, em 1982 a
RGE volta a lançar histórias do Fantasma de Lee Falk feitas por artistas
nacionais como Walmir Amaral, Adauto Silva, Wanderley Mayhe, Milton Sardella e
Júlio Shimamoto, Cláudio Seto lançou dois títulos tentando criar mangás
brasileiros que foram Super-Pinóquio e Robô Gigante,
mas ambos só tiveram a primeira edição e ele também lançou Katy Apache,
uma brasileira criada por índios Apaches, seguindo a linha faroeste Mozart
Couto lançou Jackal, Watson Portela lançou Rex,
inspirado em Jonah Hex, Johnny Pecos de Rodolfo Zalla e até o
empresário Beto Carreiro teve histórias em quadrinhos estilo
faroeste pelas mãos de Gedeone Malagola e Eugênio Colonnese, importante
perceber como estilos heroicos em evidência na época influenciavam os autores
que no caso eram os westerns americanos e os filmes orientais de Kung-Fu, o
gênero japonês do mangá só viria a ganhar força anos mais tarde. O ano de 1984
é marcado pela criação do Dia do Quadrinho Nacional em homenagem ao
cinquentenário do lançamento de O Suplemento Juvenil e é criada a Abrademi,
Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações, o mestre Osamu
Tezuka, conhecido por personagens como Astroboy, Kimba, O
Leão Branco e A Princesa e O Cavaleiro, vem ao Brasil
para conhecer o trabalho dos artistas brasileiros aonde encontra e se torna
amigo de Maurício de Souza, os dois chegam a planejar crossovers dos seus
personagens, mas Tezuka faleceu antes que isso pudesse acontecer.

Deodato
Borges e Deodato Borges Filho publicam “
3000 Anos Depois” e “
A
História do Paraíba”. Aproveitando a onda da passagem do Cometa Halley
em 1986, Marcelo Diniz lança “
A Era dos Halley” com Luiz Antonio
Aguiar nos roteiros e Lielzo Azambuja nos desenhos, nesse ano as Organizações
Globo compram a Livraria do Globo e a RGE passa a se chamar Editora Globo e
nesse mesmo período Luiz Gê e Toninho Mendes, falecido em janeiro de 2017,
fundam a
Circo Editorial com as revistas
CIRCO, trazendo
autores diversos como Paulo Caruso e Laerte Coutinho,
Chiclete com Banana
de Angeli,
Os Piratas do Tietê de Laerte,
Geraldão
de Glauco e
Níquel Náusea de Fernando Gonsales, a editora durou
até o ano de 1995. Em
1988 a
revista
Os Trapalhões passa a ser publicada pela Editora Abril,
juntamente com
Gugu e
Sérgio Mallandro, outros
apresentadores ganharam suas HQs nesse período como
Xuxa pela
Editora Globo e
Angélica pela Bloch; o
Troféu HQ Mix é
lançado em 1989 criado para “divulgar, valorizar e premiar a produção de
quadrinhos,
humor gráfico,
animação e
assemelhados”, o estúdio Artecomix passa a ser conhecido como Art & Comics
e inicia o trabalho de agenciar artistas brasileiros para o mercado
internacional, os primeiros foram Marcelo Campos e Watson Portela, ainda nesse
ano
O Amigo da Onça é publicado no Semanário por Jal e Octávio
Cariello e Christie Queiroz lança a tira
Cabeça Oca para o jornal
O Popular de Goiânia.

Depois de todo esse trajeto chegamos
aos anos 90 e o impulso que as histórias em quadrinhos no Brasil precisavam
acontece na forma da Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro cuja
primeira edição foi em 1991, depois em 1993 ainda no Rio e a terceira em 1997,
em Belo Horizonte e de lá para cá, até os dias de hoje, é um sucesso imenso com
público de dezenas de milhares de pessoas, artistas internacionais convidados e
todos os grandes profissionais nacionais, esse encontro de fãs e profissionais
consolidou a importância do trabalho dos artistas de quadrinhos no país, mostra
que temos mercado para os profissionais que lutam em manter essa forma de arte
viva e atual. Na próxima e última parte da série de artigos veremos mais um
pouco do crescimento do mercado nacional de quadrinhos, mais projetos e
editoras atravessando a década de 90, chegando ao Século XXI e aos nossos
tempos atuais. Vemo-nos em Quadrinhos Nacionais Origens - Parte III – De Volta
Para o Futuro (ôpa! Acho que não poderei usar esse título....).

Fonte de Pesquisa: Wikipedia.
Por
Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador
do Planeta Marvel/DC