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Planeta Resenha DC - Batman: Contos do Demônio

O principal fator que motivou a criação de Ra’s Al Ghul por parte de Denny O’Neil e Neal Adams era a necessidade que o herói possuía de ter um grande vilão. Isso já acontecia com o Batman, levando em consideração a presença do Coringa, mas, nos idos dos anos 70, sua figura já não era muito condizente com o teor mais adulto e sério de sua abordagem. O contraponto ao senso de justiça do detetive vem com o Cabeça do Demônio, que tem uma motivação semelhante à do nêmese, que, ao invés de olhar somente uma metrópole como algo de necessária proteção, procura abranger o salvamento do mundo todo. Porém, tal método se realizava por vias muito mais radicais que as do cruzado encapuzado e de forma muito mais egocêntrica, visto que Al Ghul se via como o futuro ditador do planeta.
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A edição Contos do Demônio da Panini reúne os trabalhos de O’Neil e Adams e também contém o texto introdutório de Sam Hamm — um dos roteiristas de Batman – O Filme e Batman – O Retorno —, além de um posfácio de O’Neil. A primeira história do encadernado é No Covil dos Assassinos, com arte de Dick Giordano, no qual introduz a voluptuosa Talia Al Ghul. Publicado em 1971, Batman se esgueira pela cidade num contraste entre o lodo das ações dos marginais e o ponto alto, a Estátua da Liberdade, onde encontra um informante, morto pelo misterioso Daaark. A curta história desemboca numa tentativa de fuga atabalhoada em que Talia demonstra uma faceta de moça em perigo, bastante diferente do estereótipo de femme fatale que assume mais tarde.
08 Talia [Resenha] Batman   Contos do Demônio
Em A Filha do Demônio, Adams assina a arte com Giordano, e a identidade secreta do encapuzado é mostrada muito facilmente desbaratada. Ao ter de se deslocar ao subúrbio para ir até a bat-caverna, Batman, no subterrâneo da mansão, se depara com Ra’s Al Ghul, que teria raptado Talia assim como mantinha o Garoto-Prodígio cativo. Nas cenas recordatórias do incidente que deu origem ao herói, o lápis de Adams emula os primeiros momentos da arte de Bob Kane à frente do título da Detective Comics. Mesmo antes da virada no final, é possível prever o que ocorrerá. Ubu, o guarda-costas de Ra’s, faz questão de sempre lembrá-lo que “O Mestre vai primeiro”, mantendo seu líder na dianteira — como ocorre com a divindade do Candomblé, Exu, Orixá que sempre recebe as oferendas logo de início. Al Ghul é um exímio jogador, pondo-se passos adiante de todos que com ele competem, incluindo Batman. Sua face é curiosamente esculpida em montanhas pelas quais eles passam, e as armadilhas parecem feitas cuidadosamente para assustar os aventureiros, mas não para matá-los, como notado pelo investigador, que reage de forma justificadamente irritada pela fracassada tentativa dos vilões em ludibriá-lo. Após esse fato, ele trata de expor as intenções vis de seu opositor, tendo ainda uma última surpresa.
Como no número anterior, a história Pântano Sinistro começa com um susto de Alfred e a aparição do Cabeça do Demônio — no que seria quase uma fórmula para O’Neil. Os desenhos dessa vez são de Irv Novick e Dick Giordano, e a trama envolve o roubo de um experimento dos laboratórios do novo nêmese do Morcego. Uma cena de ressurreição é mostrada, ainda que seja somente a imaginação de Bruce baseada na narração de Al Ghul, portanto sendo muito diferente das descidas ao Poço de Lázaro.
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Da mesma equipe criativa da história anterior, esta Vingança Para Um Homem Morto mostra o Morcego sendo salvo por Talia em uma de suas investigações. A imagem da moça consegue transitar facilmente entre a de um gato preto — belo e atraente, porém azarado — e a de um talismã que produz sorte e faz o herói sair da enrascada, ainda que a origem desse imbróglio seja por vezes ligado ou originado por ela. Somente após ver a falta de escrúpulos de Ra’s Al Ghul ao manipular os restos mortais de um ser humano para lograr êxito em seus intuitos, o herói percebe o falho caráter do dito imortal. Mas, apesar disto, o Cabeça de Demônio se assemelha mais ao arquétipo do anti-herói do que ao de um vilão clássico, uma vez que suas intenções não são necessariamente más, e sim extremas, visando sempre algo bravo e justo  ao menos sob seu ponto de vista.
O herói volta a passar por histórias mais soturnas, bem diferentes das aventuras burlescas dos anos 60, as mesmas que inspiraram o seriado de Adam West. Tal retorno às sombras foi muito anterior ao Cavaleiro das Trevas de Miller, pois já dava os seus primeiros passos com estas histórias de O’Neil, ainda que o início tenha sido realizado timidamente. Primeiro, a polêmica parceria com Robin é deixada de lado, visto que Dick Grayson está estudando em Hudson, o que faz com que suas participações sejam muitíssimo esporádicas. Em Bruce Wayne… Descanse em Paz! é arquitetado um sequestro farsante do milionário filantropo, cuja intenção envolve diminuir as chances do herói em ser pego com sua identidade civil, já que ele estaria em uma “guerra” contra o mais astuto dos antagonistas. Nessa e na próxima história (O Poço de Lázaro) o Morcego cria “aliança” com o gangster Fosforos Malone, o que possibilita a ele conseguir chegar a meios que ele não alcançaria sozinho. Após uma longa viagem, Batman finalmente ataca seu adversário, vendo-o voltar do mundo dos mortos. O embate entre os dois inimigos deixa de ser teórico e intelectual para finalmente chegar às vias de fato, em O Demônio Vive Outra Vez, ainda que de modo abreviado, em virtude de contratempos com os aliados do Morcego. O duelo é finalmente concluído com uma disputa de esgrima na qual o valor dos contestes é provado.
Por Filipe Pereira

Fonte: Vortex Cultural

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