Imagine alguém que consegue desenhar
sentimentos. Que exprima numa ilustração, toda uma gama de sensações capazes de
convencer o leitor, conceder uma credibilidade tamanha capaz de emocionar…
Você acabou de imaginar George
Pérez, o consagrado artista que há anos nos brinda com seu talento. Em meados
de 1983, a velha franquia da Turma Titã precisava ser renovada. Então, para
esse reboot, o roteirista Marv Wolfman se uniu a Pérez para criar um marco
lendário na História das histórias em quadrinhos.
Esse texto não quer ter compromisso
com cronologia, minúcias ou pequenos erros de continuidade.
Esse texto é minha declaração de
amor ao Titãs.
Estelar – A princesa Koriander do planeta Tamaran, fugitiva de uma raça
de conquistadores; Mutano – Garfield Logan, (ex-membro da Patrulha do Destino),
o jovem que sobreviveu a uma doença raríssima na África e ganhou pigmentação
verde e o dom de se transformar em qualquer animal vivo; Ciborgue – Victor
Stone, cuja genialidade científica de seu pai possibilitou que ele recebesse
próteses cibernéticas superavançadas após sofrer um terrível acidente que mutilou
seus membros; e a misteriosa Ravena – filha de um demônio extra dimensional,
dotada de poderes empáticos e capaz de manipular seu poderoso ego espiritual.
Foi ela quem reuniu essa nova equipe de Titãs quando Trigon, seu pai, ameaçou o
planeta pela primeira vez. O demônio foi enfim detido com a intervenção de
Lilith, uma antiga integrante dos Titãs da Costa Oeste e Arella, mãe de Ravena.
Ao fim dessa saga, Wally West, o Kid Flash, deixaria a equipe seguiria seu
caminho como o novo Flash.
Mais tarde, velhos membros e novos heróis integrariam a equipe, como
Ricardito – parceiro do Arqueiro Verde, mestre da pontaria e exímio combatente;
Aqualad – filho da Atlântida, o parceiro de Aquaman também podia se comunicar
com a fauna marinha e tinha força, velocidade e reflexos ampliados; Quartzo –
que tinha o dom de materializar cristais; Danny Chase – dono de um poderoso
campo telecinético; Jericó, o rapaz mudo capaz de possuir o corpo das outras
pessoas apenas com um contato visual, filho de um dos piores inimigos dos
Titãs, o Exterminador; e Terra, a famigerada Tara Markov, irmã do herói
Geoforça e possuidora do destruidor poder de controlar grandes quantidades de
terra a seu bel prazer. Ela seria a primeira traidora. Ravena chegou a se
voltar contra os Titãs, é verdade, mas estava sob controle de seu pai. Tara
Markov não estava sendo controlada quando se uniu ao Exterminador, e quase
aniquilou seus colegas de equipe um por um, no clássico “Contrato de Judas”,
que até hoje é reverenciado pelos fãs dos jovens heróis como um das melhores
sagas dos Titãs de todos os tempos. Essa história mostrou entre outras coisas,
a entrada de Jericó na equipe, a transformação de Robin em Asa Noturna e a morte
apoteótica da traidora Terra, literalmente soterrada por toneladas de
descontrole e loucura.
A vida dos Titãs, apesar de parecer
glamorosa dentro daquela enorme torre espelhada em forma de “T”, não seria nada
fácil. Eles ainda viajariam de um ponto a outro do universo, lutariam contra
seitas secretas, organizações de supercriminosos e veriam seus amigos mais
próximos morrerem. E às vezes, voltarem da morte.
Eles também se perguntariam quem é a
Moça Maravilha, e a resposta a isso ecoaria nos confins da realidade, onde
ficariam a mercê dos caprichos dos deuses. Eles ainda tinham um caminho
tortuoso, sofreriam desilusões e paixões, viveriam no limite das emoções,
casariam, teriam filhos, perderiam filhos… e seriam apagados da realidade. Mas
não do coração daqueles que inspiraram…
“Uma vez TITÃ, sempre TITÔ.
Toda a fase Wolfman/Pérez se tornou uma referência ainda muito atual,
não só pela qualidade do material publicado na época (sucesso absoluto de
vendas, tendo como concorrentes diretos os então ainda em ascensão X-Men ),
como pela dose de verdade e realismo encontrada em cada página. (Guardadas as
devidas proporções – afinal estamos falando de um gibi de super-heróis!) Os
Titãs desse período nunca foram meros personagens para ler e esquecer. Era
quase como se fossem pessoas reais que a gente conhece… amigos que a
gente encontrava todo mês nas páginas daqueles gibis. Eles foram a base firme
que sustentaram a popularidade da equipe, mesmo quando a qualidade da revista
começou a cair com a saída de Pérez e depois de Wolfman. A equipe então teve
altos e baixos…. alguns bons momentos, mas nada que se comparasse a glória do
passado. A boa notícia é que com a proximidade do aniversário de 30 anos da
revista New Teen Titans (onde começou a reformulação Wolfman/Pérez), será
lançada uma edição especial que demorou 20 anos para sair do papel: “Novos
Titãs: Games”, uma Graphic Novel inédita com uma história fechada, passada nos
anos 80, e produzida justamente por Marv Wolfman e George Pérez. O lançamento
oficial está previsto para 21 de setembro de 2011 (Nos EUA).
O texto e a arte daqueles tempos
tinham algo que é raro nas histórias recentes; eram escritos por fãs dos
personagens, que realmente queriam fazer um trabalho bem feito. Não era apenas
um roteiro desenhado quadro a quadro. Não eram histórias pensadas para virarem
filmes de bilheteria esmagadora, sejam eles de boa qualidade ou não.
Eram
uma declaração de amor a esses personagens.
Por Rodrigo Garrit
Fonte: O Santuário
2 Comentários
Como até hoje ninguém comentou este texto? Bom, eu mesma só o encontrei hoje... imagine uma garota de 10 anos, que até então, como era de se esperar, só lia os quadrinhos da Mônica, da Disney, e até Ely Barbosa (esqueceram desse cara, né? ), se deparando com a coleção de gibis do tio... no início, não me deixava pegar, mas depois me deixou ler alguns. Assim conheci os Novos Titãs dessa fase. Era 1985 e a tragédia de Victor Stone foi magnética. Eu lia e relia, sofrendo com aquilo, quase chorando. A visão das pernas da mãe de Vic emergindo da massa que a consumia não me deixava... li todos. Posteriormente comprei todas revistas que pude em sebos - papai não deixava eu comprar revista "violenta de menino", e assim foi, até eu comprar em bancas, na década de 90. Por volta de 1995, 96, o encanto se foi. Realmente, nada foi a mesma coisa após esses gigantes. Parabéns pelo texto, linda lembrança.
ResponderExcluirOlá Anônimo, ou devo dizer, Anônima! Em 1985, eu estava com 14 anos, portanto devemos ser da mesma geração de fãs que acompanharam os Novos Titãs desde sua estreia em Heróis em Ação até a própria revista do grupo. Infelizmente nada mais foi o mesmo, e olha que eu tentei acompanhar os Novos Titãs em todas as suas reencarnações posteriores. Acho que, depois de Wolfman e Pérez, a única fase do grupo que eu gostei (mais ou menos) foi a do Geoff Johns, mas com ressalvas.
ResponderExcluirObrigado pela visita e volte sempre. Posts diários!