Após fazer
a competente reformulação do Superman – em Origens Secretas, re(re)-contando a
origem do personagem, e também a frente de Action Comics, a partir do número 866,
em sagas excelentes como Brainiac (em que retornava ao
vilão da Era de Prata), Nova Krypton e O Mundo Sem Superman –Geoff Johns junto
ao seu fiel escudeiro Gary Frank assumiu a responsabilidade de dar uma
“nova cara” ao morcego de Gotham City, atualizando alguns de seus temas e
englobando referências do personagem fora dos quadrinhos – especialmente o que
saiu nos últimos 25 anos. Batman Terra Um teria em seu caráter uma visão nova
sobre a mitologia do personagem, menos heroica, mais crível, e até com uma
grande liberdade aos autores da Graphic Novel.
O passado
dos Wayne é reimaginado de uma forma curiosa, com Thomas
Wayne como
candidato a prefeitura de Gotham – e portanto sendo um alvo mais plausível para
a criminalidade da cidade – Alfred sendo um antigo amigo seu,
ex-fuzileiro, manco e com muita personalidade, mostrando-se um sujeito deveras
contestador ao contrário do servil mordomo da família, discutindo até o estilo
esbanjador do seu amigo.
Os olhos de Bruce após o fatídico assalto, também no
cinema, é de uma súplica sem tamanho, é impossível para o leitor não sentir um
misto de misericórdia e apreensão pelo menino, é tudo muito rápido, mas a
mensagem é passada fidedignamente. Junta-se a volúpia pela vingança, o passado
belicoso de Alfred e o código ético militar que este passa ao jovem órfão, e a
receita para um louco (vestido como um mamífero voador) está pronta.
O background de outras figuras canônicas é interessante, desde Harvey
Bullock, mostrado como um fanfarrão apresentador de televisão,
até Barbara Gordon, uma prestativa filha
de um detetive de polícia que prossegue vivendo na cidade mesmo a contragosto
de seu pai – os detalhes da historiografia dos personagens são implícitos, ou
mostrados aos poucos, como a ausência da esposa de Jim
Gordon, as referências aos Arkhams, inclusive justificando alguns dos
problemas enfrentados por Bruce, etc.
O conjunto
de referências de Johns faz uma amálgama com os filmes, além
das já citadas há uma evolução do que seria Oswald Cobblepot em Batman – O Retorno, claro, sem a
monstruosidade, e o rejuvenescimento de Lucious Fox, com função parecida com
as que exerce nos filmes de Chris Nolan. Não é segredo para
ninguém a relação de Johns com os cinemas de super-herói,
especialmente na sua parceria com Richard Donner, participando
efetivamente do filme do Superman de 1978 entre outras produções do diretor – Donner ainda escreveria junto a Johns algumas
das boas histórias da passagem do roteirista pelo título do herói kriptoniano.
As mudanças
de comportamento desta versão de James Gordon são muitas, mas nenhuma delas é
gratuita, sua malfada tradução tem um boa justificativa para comportar-se mais
amenamente com criminalidade, mas ao final, se redime de seus atos de
complacência com os moralmente falhos.
A relação
entre Alfred e Bruce, ponto alto da história lembra muito o mentor/pupilo
presente em Batman do Futuro, com um idoso e
aposentado Wayne e um novíssimo Terry
McGuinnis, tão impulsivo e sedento por justiça quanto o
protagonista desta. A parte final é eletrizante e tem lutas muito bem
desenhadas por Gary Frank. Batman
Terra Um é
competente no que se propõe, que é apresentar o personagem a novos leitores
torcendo alguns fatos canônicos dos mais de 70 anos de existência deste, mas
não contém em si nada de extraordinário, é só um massa veio bem feito e que não
agride os fãs mais ardorosos.
Fonte: Vortex
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