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Colaboradores do Planeta: Vigilantes nas HQs

O vigilantismo nas HQs é um tema que nunca fica velho. Mas o que significa ser um “vigilante”? Quais são os mais famosos vigilantes na Marvel e na DC? Nosso colaborador Giulianno de Lima Liberalli mergulhou fundo no submundo do Planeta Marvel/DC e nos traz os frutos de suas investigações.


Segundo o dicionário, o termo “vigilante” é um adjetivo dedicado a todo aquele que vigia, é cuidadoso, atento, enfim é a pessoa encarregada de vigiar, mas nas HQs o termo se refere ao herói ou anti-herói que passa por cima do sistema legal e pratica a justiça com as próprias mãos, alguns de maneira mais moderada e outros não, preferindo aplicar a punição além da detenção. Tanto na Marvel como na DC temos vários heróis assim, pessoas comuns ou não que atravessaram algum trauma e decidiram revidar contra a criminalidade do seu jeito. Não é um sentimento que foge tanto da realidade assim, confesse que em nenhum momento você não sentiu vontade de colocar uma vestimenta sombria, percorrer as ruas escuras à noite e acabar com algum bandido infeliz que tenha tido o azar de cruzar o seu caminho? Muitas vezes quando vemos bandidos que cometeram vários crimes, desde assaltos a assassinatos, são presos e saem em pouco tempo depois devido a falhas no sistema, o sangue ferve. 

E nos quadrinhos o sangue e as ruas fervem quando esses vigilantes decidem que a polícia não está dando conta do recado, a recente série do Demolidor na NETFLIX e o tremendo sucesso que obteve é um sinal claro que o público e os leitores torcem para que o vilão sofra, e sofra bem, um castigo de igual valor ao mal que comete. Poucas vezes uma série de heróis ficou bem próxima da realidade como a do Demolidor, claro que o protagonista tem dons sobre-humanos, o que dão certa vantagem, mesmo assim a invulnerabilidade não é um dos seus poderes e ele pode sangrar e ser ferido, fatores que foram muito bem demonstrados no decorrer da série onde Matt sangrou, e muito, para se dedicar a sua guerra contra os criminosos, para a próxima temporada está confirmada a participação recorrente do mais violento e famoso vigilante das ruas: O Justiceiro, que será interpretado por Jon Bernthal, famoso pela série The Walking Dead no papel do policial Shane, parceiro de Rick Grimes. Bernthal será o quarto ator a encarnar o personagem, o primeiro foi Dolph Lundgren no filme de 1989 que adaptou de maneira rasa e caricata o herói em uma produção barata típica da época, o segundo foi Thomas Jane em 2004 em um filme com um resultado bem superior ao primeiro, porém a bilheteria não correspondeu às expectativas do estúdio impedindo uma continuação e o terceiro foi Ray Stevenson em Justiceiro: Em Zona de Guerra de 2008 e foi detonado pela crítica especializada, curiosamente dos três, Stevenson que também interpreta Volstagg nos filmes do Thor, foi o que ficou mais parecido com o personagem dos quadrinhos. A esperança com essa participação em Demolidor é de que o herói ganhe uma adaptação fiel aos quadrinhos.


Criado por Gerry Conway, Ross Andru e John Romita Sr para The Amazing Spider-Man 129 de fevereiro de 1974, Frank Castle é um ex-militar de origem italiana que cresceu em Nova York, foi capitão do Corpo de Fuzileiros Navais, altamente treinado em táticas de guerrilha e perito em vários tipos de combates e armamentos. Religioso, honesto e trabalhador, Frank
retornou para os Estados Unidos após um tempo no exterior em missões militares para se casar com Maria, condecorado como herói de guerra, eles tiveram dois filhos: Frank JR e Lisa. Tudo corria bem em sua vida até o dia fatídico em que presenciaram uma batalha entre gangues mafiosas rivais, pegos na linha de fogo somente Frank sobreviveu, sua mulher e filhos foram mortos na sua frente. A dor se tornou revolta e Frank assumiu para si a missão de exterminar todo e qualquer bandido, a começar pela família mafiosa que tinha matado a sua, após conseguir se vingar ele assume o codinome de Justiceiro, decidindo que Frank Castle morreu junto com sua mulher e filhos e que não existiria mais. Diferente do Demolidor, o Justiceiro não possui nenhum poder especial, somente suas habilidades de luta e conhecimento tático, o que várias vezes ele provou ser suficiente, mas suas atitudes hostis e violentas contra os criminosos muitas vezes o colocaram de frente diversas vezes contra o próprio Demolidor e o Homem-Aranha pela divergência que eles têm em relação aos métodos de Castle. Se a série do Demolidor nessa próxima temporada retratar fielmente esses dois lados da moeda entre eles, poderemos ter algumas das melhores seqüências das HQs nas telas quando seus métodos de combate ao crime entrarem em choque.



A Marvel tem muitos outros vigilantes famosos como Luke Cage, Jessica Jones, Manto & Adaga e o Cavaleiro da Lua, porém o nome do Justiceiro se sobressai dentre todos, talvez por ser justamente o mais próximo de um cara normal que, como disse o Coringa na clássica A Piada Mortal questionando as motivações do Batman: “Só é preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático... Você teve um dia ruim, não é? Eu sei como é. A gente tem um dia ruim e tudo muda.”, teve um dia realmente muito ruim e nisso que reside o carisma de Frank Castle, no fundo nós entendemos as suas motivações e percebemos que ele não é uma pessoa má, mas atravessou um dia ruim que deixou marcas eternas na sua alma para o azar dos criminosos de Nova York o levando a travar um combate eterno para limpar as ruas da cidade. No universo das HQs o destino dos personagens está nas mãos dos escritores e dos leitores, a fama do Justiceiro o leva a um patamar de ser praticamente o personagem que pode ser perfurado, massacrado, baleado e não irá morrer tão cedo, se ele existisse no mundo real, já teria entrado para o Livro dos Recordes como o homem mais
alvejado do mundo e que sobreviveu para contar. Só que nem todos os vigilantes tem a mesma sorte, na DC Marv Wolfman e George Perez criaram O
VIGILANTE em 1983 para The New Teen Titans Annual 2, originalmente ele era Adrian Chase, promotor público cansado de ver os bandidos que mandava para a cadeia saírem em liberdade pouco tempo depois, adotou a identidade de Vigilante para poder praticar a sua própria justiça inicialmente de maneira não letal, procurando incapacitar os bandidos ao invés de matar, no entanto com o tempo e com o peso da morte de um policial nas costas, ele foi se tornando cada vez mais violento e autodestrutivo até cometer suicídio no número 50 de sua própria revista, no entanto o nome Vigilante foi assumido por outras pessoas a fim de dar continuidade a luta de Chase por justiça.

Como o assunto é sobre vigilantes, um dos mais famosos e icônicos é Rorschach de Watchmen. Sua marca registrada era a máscara feita de um tecido especial criado pelo Dr. Manhattan com um composto cujas cores alternavam entre o preto e o branco criando imagens semelhantes aos Testes de Rorschach, imagens usadas por psicólogos para entender a visão de alguns pacientes sobre o mundo baseado em suas interpretações dos
desenhos. Nascido Walter Kovacs, teve uma infância difícil com uma mãe prostituta e brigas que o levaram para um reformatório, muito inteligente e com facilidade de aprender técnicas de combate e sobrevivência assumiu a identidade de Rorschach, passando a capturar bandidos e deixando-os para a polícia levar. Mesmo com sua postura silenciosa, ele procurava agir dentro dos limites junto com os outros vigilantes, até investigar o rapto de uma menina e chegar ao culpado. A revelação do destino da criança que foi morta, mutilada e queimada foi demais até mesmo para ele e sua natureza violenta veio à tona mudando sua forma de combater o crime de vez.  



O fenômeno dos vigilantes não existe somente nas HQs, em várias cidades americanas existem pessoas que adotaram codinomes, criaram trajes e métodos próprios de combater o crime ou prestar serviços comunitários na forma de heróis vigilantes. Alguns agem de maneira pacífica, sem armas e fazem apenas trabalho de conscientização, patrulhas, orientação e até distribuição de alimentos para necessitados. Se ficasse apenas nisso, as autoridades não se preocupariam tanto, porém tem relatos de alguns que andam com armas leves, possuem treinamento de combate e agem com mais dureza com meliantes como acontece em Seattle na cidade de Rain City com um grupo chamado de O Movimento dos Super-Heróis de Rain City e a polícia orienta as pessoas a não recorrerem a esses vigilantes para resolverem problemas com criminosos. Certamente essas pessoas foram influenciadas por obras e personagens como os listados acima, no entanto uma coisa é a vida retratada nas HQs e outra é a realidade que vivemos onde um movimento em falso significa realmente vida ou morte, porque personagens de quadrinhos podem ressuscitar, nós não.


Por Giulianno de Lima Liberalli
Colaborador do Planeta Marvel/DC








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6 Comentários

  1. No começo cheguei a achar o Vigilante parecido com o Demolidor, por razões óbvias, mas depois comecei a perceber que os métodos de Chase eram mais radicais. Me lembro até hoje da surpresa que tive quando li a última história.
    No caso do Justiceiro, gostava muito do personagem porque era uma época em que Watchmen e Cavaleiro das Trevas foram as grandes surpresas da "temporada" lançadas pela Abril e influenciaram bastante meus gostos.

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    1. O Vigilante também me surpreendeu mostrando que um homem pode afundar na loucura se não tiver um ponto de apoio que o mantenha no caminho normal. O Justiceiro começou a me interessar naquela mini com arte do Mike Zeck mostrando o retorno dele nos anos 80, período que começamos a ver os heróis agindo mais como justiceiros do que representantes da lei. Abraços!

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    2. Aconteceu a mesma coisa comigo no caso do Justiceiro, Giulianno. Li essa mini em Superaventuras Marvel e até cheguei a escrever algo. Me lembro que nos seus comentários você disse que seria um bom roteiro para um filme do Justiceiro, no que eu concordo plenamente. Abraço!

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    3. Verdade, Roger, sempre achei que aquela mini do Justiceiro seria um bom enredo para um filme dele, até uma continuação para o filme com Thomas Jane. Abraços!

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  2. Não sei nem por onde começo, é ótimo começar o dia sendo um dos primeiros textos a ser ler esse. Eu levo o vigilantismo nos quadrinhos como atos de personagens calcados mais no nosso mundo no que no deles, onde os atos tem consequências muitas vezes tão injustas ou fins tão tristes como os nossos na "vida real" (coloco aspas nesse termo pela própria realidade ser um termo tão relativo e instável, que eu não consigo ver como algo sólido e definitivo). O Batman por exemplo é o tipo de cara que eu não consigo ver como Super-Herói, e sim vigilante, mesma forma eu colocaria nesse patamar o Arqueiro-Verde. Da mesma forma que eu não consigo enxergar o tom lunático do Frank Castle, o mais próximo que eu cheguei de ver o Castle como um lunático foi na HQ do Nick Fury (http://ozymandiasrealista.blogspot.com.br/2015/01/melhores-e-piores-de-2014-lista-nao.html) no qual ele se apresenta como alguém que lutava na guerra não por algo necessário, mais como uma forma de terapia, a guerra não era uma fase, era uma forma constante de vida sem a qual ele não viveria sem. Chegando ao ponto de alongar o conflito do Vietnam. Nick Fury seguia por forma parecida. Como eu já comentei com o Roger aqui antes, é tudo muito contraditório, ao ponto que o Frank Castle é visto como um maníaco homícida, o Wolverine é visto como um homem de bem e exemplar na sociedade, sendo ate professor (coisa que até o Bendis ironiza através do Homem-Aranha no segundo volume de histórias de New Avengers), ou mesmo o Capitão-América, que mata e muito, principalmente na versão ultimate (verdade seja dita, TODOS QUE FAZEM PARTE DO SUPREMOS MATAM), mas são vistos como heróis patriotas e exemplares, enquanto aquele que vai na funda, podre e ignorada ferida moral da sociedade é tido como o vilão.

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    1. Oi, Ozymandias, obrigado pelas palavras que complementam muito as idéias do meu artigo. As histórias sobre vigilantes tem um tom mais próximo da realidade por envolverem mais problemas urbanos como tráfico e violência do que as grandes e cósmicas sagas super-heroicas, acredito eu. Também concordo que Castle não tem mais outra razão de existir do que ser o Justiceiro e o Wolverine tem passado por mudanças no seu conceito básico para ser encaixado no mundo dos supers e se afastando da sua raiz selvagem. Batman também passou por coisa semelhante, no início ele era um vigilante quase como Castle mas depois de ler os volumes do Jim Aparo percebi claramente o quanto conseguiram distanciar o Cavaleiro das Trevas de sua essência inicial para ser encaixado no mundo dos supers. Já os Supremos são o claro exemplo de que os que matam pelo governo são heróis e os que matam por conta própria são ameaças à sociedade. Grande abraço!

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